Pedro Wichtendal Villar é graduando em Direito na USP. Nasceu em 2001, em Santa Cruz de la Sierra (Bolívia), e atualmente reside em São Paulo. Teve os primeiros poemas publicados em 2020, na revista Ruído Manifesto.
Sinto como se precisasse fazer uma longa viagem.
Para que pudesse voltar e dizer: estou aqui,
e tenho o que contar. Ouve só.
Beatriz Calheta
a Daniel Francoy
Lembre que a vida também é isto:
a impossibilidade de trocar de pele.
Chego a tempo não dos sulcos, dos silos,
do asfalto, das facas de aço inoxidável.
Chego a ver vivos na terra não os anjos,
como se estar aqui sugerisse o abandono.
Chegar é desconhecer desabamentos.
Chegar é conhecer demarcações.
Deixar as coisas no lugar
não é suficiente ensejo ao retorno.
Pássaros brotam das telhas, um pássaro
assobiará como alguém.
Deixar as coisas no lugar
⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀ouço
provou-se impossível.
É preciso que vija o corpo
ausente de justificativas.
Desconfiar da pedra trabalhada.
Observar de baixo os mirantes.
Pontos estratégicos do corpo
que retêm água, energia, sede.
Coragem de caminhar sobre a terra.
Os fundadores fundaram nada
mais do que a si mesmos.
desvencilhar
o silêncio da água em
⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀queda
⠀⠀⠀⠀⠀(o silêncio das coisas
⠀⠀⠀⠀⠀quando gestam
⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀)
é tecer o risco de
emudecê-la
o fundo das coisas
não é lugar que se habite
em algum lugar das coisas
somente o estrondo é verdade
o preço da gravidade: um hesitar
que não silencia
Foto de Luísa Machado.
Comment (2)
Encantada!
Meu amor, parabéns!